Covardia

O silêncio em respeito ao meu sofrimento foi a forma como você escolheu lidar com meus sentimentos, se distanciar para não machucar, para deixar o tempo curar.

A posição era confortável demais, decidir quando e o que eu posso ver da sua rotina, ficar em silêncio e não ter que lidar com o peso que virei em seu caminho. Até aqui segurei as pontas.

De uma hora para outra o silêncio é quebrado em forma de post, em segundos a foto do casal em lua de mel, de uma hora para outra não sou mais o que se dedicou, o que cuidou e o que amou.

Sou mais um na lista de boys, mais um que você colocou em stand by para acompanhar virtualmente suas novas aventuras.

Me sobrou lidar com a irresponsabilidade emocional e com a sua indiferença, o silêncio não é mais um remédio, ele continua sendo seu coringa diante os problemas da vida.

Sua covardia.

Vai passar

Dos inúmeros conselhos que me deram, um me tocou particularmente no coração: às vezes encontramos a pessoa certa, mas no momento errado.

Refleti muito sobre isso, hoje o momento pode ser o errado, mas lembro-me de quando nos conhecemos, de nossas conversas infinitas, de nossos abraços que me levavam para longe, do meu beijo no seu olho, do seu sorriso sem graça, do seu corpo dançando com o meu músicas que só faziam sentido para nós dois.

Esses foram os anos mais felizes da minha vida. Tenho sorte de ter te encontrado. Hoje, não tenho mais isso, não tenho você, mas tenho esses momentos gravados no meu coração.

Um dia, as lágrimas vão virar boas memórias. Um dia, tudo isso vai passar.

140 minutos

Quase um mês desde o fatídico domingo, o que era para ser um desabafo se transformou em um corte profundo, 5 anos rompidos em uma conversa de apenas 140 minutos.

Estou de certa forma recomeçando, aprendendo a caminhar sem o seu apoio, acordar sem pensar se serei mais uma vez um plano B ou C no fim de semana.

Parei de chorar intermitentemente, uma grande vitória, mas ainda assim dói sem aviso.

Me perco nos perigos noturnos agora sozinho, a volta para casa é sempre difícil, mas continuo seguindo, mesmo que sozinho. Continuo seguindo.

Branco Gelo

Viro o corredor para entrar no quarto enquanto uma frase de um livro me vem à cabeça: “não há mudança sem perda”. A partir daí, as lágrimas começam a cair.

Deito e olho anestesiado para o teto branco e sem graça, culpo minha falta de imaginação por deixar o teto daquela cor, mas mesmo abaixo das estrelas, essa dor não iria passar.

Sem brilho nos olhos, sem mãos entrelaçadas na rua, até nosso abraço se tornou apenas encontros e despedidas.

Mudamos e eu te perdi, mas até que ponto eu mudei?

Aqui, a anestesia passou, sobrou-me a dor da lembrança e, junto dela, a solidão.

Sintetizadores

O som psicodélico dos sintetizadores me leva a revirar memórias dentro do meu coração, tentando adivinhar o que você está sentindo neste exato momento.

Sua presença atrás de mim me conforta e, ao mesmo tempo, me deixa mais ansioso. Mesmo cercado por tantas outras pessoas, não consigo me desvencilhar da nossa história. A música continua invadindo meu corpo e trazendo cada vez mais lembranças, uma música que já foi nossa e que, de certa forma, ainda é.

Me distraio tentando entender esse novo significado, as palmas me despertam.

Qual será a nossa próxima música?

Grafite

O vento frio me desafia a levantar e fechar a janela, o pretexto que eu precisava para sair do sofá por alguns minutos. Olho pelo vidro e vejo aquele grafite que você tanto gostava, na minha cabeça as cores vibrantes da viola nordestina se misturam com o seu olhar castanho.

Fecho a cortina tentando sair daquele nosso velho mundo, escolho um vinil não tão aleatório assim, mais uma auto sabotagem, agora na voz de Caetano.

Me pergunto porque as vezes a dor também nos traz conforto, talvez seja por isso que eu procure tanto por aquele você que perdi, aquele antes do silêncio.

Aqui e ali

Acordo com a fresta propositalmente aberta da cortina, olho para o lado e vejo o familiar espaço vazio ao meu lado da cama.

Me esforço e tento  projetar seu corpo ali nos mínimos detalhes, a imagem ainda não é clara, desisto e fecho os olhos, aquele velho filme de nós dois passa pela minha cabeça.

Pauso na minha parte favorita, nosso primeiro show, enquanto você dança e sorri para mim.

Ali eu queria que você fosse o homem da minha vida, ali e aqui.

Vidrinho

Saindo da cozinha em direção a sala sinto um calafrio, drasticamente a temperatura do meu corpo muda e me sinto sozinho

Me abraço na tentativa de me aquecer porém sem sucesso , sento na minha poltrona preferida em uma posição de Lotus super mal resolvida, fecho os olhos e tento entender meus sentimentos.

Mergulho em imagens e padrões verde musgo, não consigo entender muita coisa, abro o olho e vejo o seu desenho em meio as minhas canetas de cor, aquilo me reconforta, puxo o meu celular e abro a nossa última conversa logo depois sua foto.

Entre lágrimas de saudade e o tal calafrio um torpor começa a subir através da minha nuca que em questão de segundos domina minha cabeça me colocando em um estado de contemplação e estranho conforto.

Quando tento entender o que esta acontecendo percebo que um áudio seu esta tocando no celular, você esta falando sobre amenidades, tua voz me transporta, me imagino em teus braços e me lembro do nosso abraço.

Queria colocar ele dentro de um vidrinho com tampa de rolha e abrir sempre que me sentir sozinho.

E sempre que me sentir perdido, sozinho, tristinho abrir o meu vidrinho.

Ozu

Depois de uma semana finjo que está tudo bem, chego em casa, jogo a mochila na poltrona da sala e coloco as compras no balcão da cozinha decidido a cozinhar.

Ligo a caixa de som porque a música sempre me anima, inocentemente deixo no aleatório e começo meus primeiros movimentos, em alguns momentos me vejo imóvel e totalmente vulnerável  ao som dos primeiros acordes da nossa canção.

A água começa a ferver e dentro dela eu começo a lembrar do seu rosto, do jeito que o seu corpo se movimenta, de você lavando a louça e sorrindo para mim, eu lembro da sua voz e do nosso abraço de ozu,

Lágrimas.

No teu abraço

Em uma bifurcação de sentimentos te reencontrei , sai do raso e fui mergulhando aos poucos em ti até encontrar na sua voz uma paz perdida dentro de mim.

Escolhi brevemente um outro caminho mais de uma certa forma você ainda estava ali perto de mim, voltei duas casas e novamente te reencontrei.

No teu abraço um lugar onde eu sempre quero estar.

O nosso lugar.